por Bruna Araújo
Foi através da interpretação de Waldir Azevedo para a canção de Zequinha de Abreu, "Tico-Tico no Fubá", que Francisco Assis de Sousa pediu ao seu pai o seu primeiro cavaquinho. Trabalhando como músico e como luthier, profissão que se baseia no ato de criar e restaurar instrumentos musicais, há, aproximadamente, 45 anos.
Influenciado pela família e amigos próximos, como o músico campinense Mestre Duduta, Assis coleciona momentos inesquecíveis enquanto músico e luthier, tendo a música e a arte como companheiras de vida. O artista já se apresentou tanto ao lado do mestre, com o grupo Chorata no Museu de Arte Popular da Paraíba, em Campina Grande.
As notas entre família
Tendo influência da própria família de músicos ainda quando criança, Assis cresceu ouvindo “chorinho” e artistas como Waldir Azevedo, Augusto Calheiros, Orlando Silva, Nelson Gonçalves e Anísio Silva. Destaca também a importância da música regional em sua trajetória, tocada por nomes como Luiz Gonzaga e Dominguinhos.
"A música é como a matemática, ela é infinita. Se você estudar um instrumento a vida toda, ainda é pouco", afirma Assis.
O musicista relembra que foi através do Mestre Duduta - moravam em bairros próximos, na época - que seus estudos sobre cavaquinho foram aprimorados e, a partir disso, foi levado para realizar apresentações ao lado do Mestre. Se definindo como um aprendiz da música, o artista toca cavaquinho, pandeiro e a sanfona de oito baixos, sendo este último encontrado durante uma busca por instrumentos a pedido de sua esposa, a também musicista, Marleide Cartaxo.
A filha do artista, Fernanda Júlia, também é cantora e musicista, e relata que seus pais são sua principal inspiração. "Eles se conheceram por conta do 'choro'. Desde a barriga da minha mãe eu escuto 'choro', por isso que eu devo gostar tanto". Assis complementa que a música é saudável para a família e que ela os mantém "focados para uma direção que só vem a produzir coisas boas, bonitas e agradáveis".
A família realiza apresentações por Campina Grande, sendo uma das mais recentes através do Chorata, grupo local formado por instrumentistas de choro, que previamente conseguiu convencer Assis a se apresentar tocando em seu cavaquinho, canções clássicas de chorinho.
O trabalho como luthier
A carreira de luthier começou cedo, de forma espontânea e autodidata aos seus 14 anos. Como seu pai era dono de uma serralheria, um de seus clientes levou um violão para restauração, o qual despertou o interesse de Assis em realizar o que seria sua primeira encomenda.
O musicista conta que um dos seus colegas afirmava: "Se você quiser, faz um cavaquinho", mas ele respondia que não tinha interesse, pois as fábricas já faziam muito bem. Ao decidir fabricar o cavaquinho, o instrumento foi parar nas mãos do primo de seu colega e músico, Assis do Cavaco, que foi para Brasília e participou de grupos ligados ao Waldir Azevedo. A partir desse dia, Assis continuou a fabricação de instrumentos tão bons quanto aquele.
Produção artesanal do luthier Assis -Fotos: Acervo pessoal/Fernanda Júlia
Atualmente, a produção consta com a confecção personalizada de violão de quatro a doze cordas, viola, cavaquinho, bandolim e pandeiro, feitos com madeira maciça importada, além das violas dinâmicas - bastante utilizadas por repentistas - e das violas simples. Os instrumentos já foram endereçados para artistas a nível nacional e internacional, como Estados Unidos e países da Europa.
"Sou luthier sem ter passado por escolas de luthieria, pois não existia em Campina Grande. Sou autodidata, criei cada ferramenta, cada forma, cada peça que eu deveria utilizar para a função", conta Assis.
O trabalho que, anteriormente, era paralelo à sua carreira policial, sendo executado apenas durante as férias e dias de folga, atualmente se mostra mais constante, tendo em vista a sua aposentadoria. O tempo e a dedicação que compõem a arte da luthieria são processos cuidadosamente respeitados por Assis, que realiza seu trabalho compreendendo a beleza e a essência de cada instrumento.
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Texto: Bruna Araújo
Entrevista e Produção: Bruna Araújo e Julia Nunes
Editor de Especializado: Eduardo Gomes
Editor-Chefe: Rafael Melo
Diretora de Redação: Ada Guedes
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