"Sempre fui uma criança curiosa e me vi feliz envolvido com os diversos tipos de manifestações artísticas. Acredito que a arte me escolheu. Eu escolhi a arte e hoje caminhamos juntos”. Durante as fases de sua vida, a certeza de um futuro desafiador e uma profissão brilhante foram as aliadas do jovem fotógrafo Emanuel Tadeu da Silva, 26, que o consagraram como fotógrafo oficial do Maior São João do Mundo.
Nascido no município paraibano de Campina Grande, Emanuel cresceu na cidade vizinha Queimadas, num lar simples e humilde onde aprendeu a importância do trabalho duro. Ao comentar as dificuldades financeiras que sua família já enfrentou, afirma que tal condição foi o que lhe incentivou a persistir em seus sonhos: “minha infância não foi fácil, minha família era pobre. Mas isso não se fez empecilho, pois eu precisava acreditar em mim e plantar a semente da boa colheita que eu queria fazer no futuro”, conta ele.
Além da força de vontade para conquistar seu espaço no mundo, Emanuel contou com o apoio da família e amigos. “Eu sempre tive fé. Mas era algo gratificante perceber que muitas vezes eles acreditavam mais em mim do que eu mesmo. Meus pais nunca entenderam muito bem com o que trabalho, mas nunca deixaram de acreditar em mim”, completa.
Apaixonado por cultura e manifestações populares, a fotografia entrou na vida de Emanuel nos eventos políticos do ano de 2012, mesmo sem a utilização de equipamentos profissionais. “Sempre gostei desse tipo de festa. Eu gosto de estar no meio do povo e já participava desses eventos eleitorais, como os comícios e passeatas. E aí, utilizei o celular para fotografar o olhar das pessoas que estavam ali”, diz ele.
Naquele momento, percebeu que estava em busca da arte em qualquer situação que viesse a vivenciar, interpretando o mundo ao seu redor e mostrando o produto: seu olhar fotográfico às pessoas. Foi a partir dos trabalhos com registros fotográficos nas campanhas eleitorais que conseguiu alcançar novos contratos e conquistar os primeiros equipamentos profissionais.
Antes de se consolidar na profissão de fotógrafo, Emanuel buscou enveredar por outras áreas. Iniciou em Campina Grande os estudos em Ciências da Computação e tentou o curso Arte e Mídia, mas não seguiu, pois a graduação era voltada ao audiovisual e a paixão que pulsava seu peito era, de fato, a fotografia. Então, iniciou o curso de Publicidade e Propaganda onde encontrou maneiras de desenvolver mais experiências na área que queria seguir e dessa forma o fez.
Junto a alguns colegas, iniciou um projeto para o componente curricular de Fotografia, que tinha por objetivo fazer com que os alunos tivessem experiências fotografando o São João. Naquele contexto, a pauta que Emanuel tinha que cumprir era fotografar as competições de quadrilha junina, na Pirâmide do Parque do Povo, ponto turístico localizado no Centro de Campina Grande.
Apesar da pouca experiência e dos inúmeros desafios que teria pela frente, Emanuel Tadeu se sentiu em casa. Talvez pela aproximação com os festejos juninos, talvez pela admiração aos personagens que compunham aquele cenário ou, ainda, pelos sentimentos de euforia, alegria, pelo colorido da decoração ou por todos esses aspectos da festa. E foi numa fotografia assim, com uma explosão de cores, que seu trabalho foi notado não só pelo público da festa como pelos organizadores.
“Eu ouvia de um professor que não precisávamos colocar marca d’água na foto, porque, na verdade, deveríamos desenvolver uma identidade visual ao ponto de alguém olhar um trabalho e saber que é meu só pela maneira que construí a imagem. E essa fotografia foi o primeiro passo da construção da minha identidade”, comenta.
Emanuel Tadeu seguiu fotografando a festa da maneira mais bonita que seus olhos podiam enxergar, construindo narrativas e mostrando a alegria do evento através de suas fotos, até que foi contratado como fotógrafo oficial do evento. “Eu sempre fiz por amor, mas ter sido reconhecido pelo meu trabalho foi gratificante. O São João é tudo para mim, faz parte de quem eu sou”, afirma.
Após cinco anos envolvido com O Maior São João do Mundo, o fotógrafo se viu em 2020 numa tristeza inenarrável em ter que viver sem a alegria da festa. Para colocar tais sentimentos no mundo, pensou rapidamente em uma exposição com o intuito de documentar tudo aquilo que os anos da pandemia de COVID-19 causaram à cidade e à cultura local.
A exposição “O Descolorir da Tradição – sonhos em quarentena” expôs a realidade de personagens importantes na construção da festa, e que durante a pandemia, estavam sem trabalhar quando, em outro contexto, estariam organizando o evento. “Minha marca sempre foi carregar muitas cores nas fotografias. Mas nesse projeto, deixei todas em preto e branco, já não tínhamos mais tantas cores e o brilho tinha de ser direcionado aos profissionais de saúde, que são extremamente importantes para nós nesse cenário”. Cada peça da exposição foi acompanhada por poemas do cordelista Lima Filho para melhor contar a história da personagem central da foto.
Emanuel vive hoje os frutos de um sonho de menino, que juntou dom, técnica, conhecimento e vontade num objetivo que poderia não ser tão claro às vistas das outras pessoas, mas que sempre foi óbvio ao seu coração: conquistar seu lugar no mundo. Talvez a união do amor à arte e à tradição cultural, com um olhar curioso disposto a contar a história de cada pessoa que faz parte da festa, sejam o diferencial do fotógrafo oficial do São João de Campina Grande.
____________________
Texto: Ana Luísa Rocha
Entrevista: Ana Luísa Rocha
Produção: Eduardo Gomes e Bruna Araújo
Supervisão Editorial: Ada Guedes
Comments