por Tanmara Gomes
Natural da cidade de Fagundes, localizada na Região Imediata de Campina Grande, o pintor André Nunes, de 29 anos, faz do ambiente em que vive, inspiração para a criação artística. Autodidata, desde menino sempre teve o desejo de pintar o que observava à sua volta. Dedica-se em aperfeiçoar seu talento e mesmo sem professor ou materiais de qualidade, conseguiu evoluir ao longo dos anos.
São nos cantos mais inusitados que a arte ganha vida. Na verdade, ela se faz sempre presente em nosso cotidiano, mas acaba se tornando invisível aos olhos apressados e desatentos.
Arte, preservação e valor
Conhecida por suas paisagens naturais, Fagundes é bastante visitada durante o mês das festas juninas, principalmente pelo ponto turístico da Pedra de Santo Antônio, considerado um local de realização de preces relacionadas ao matrimônio.
Por esse motivo, o artista busca retratar na maioria de suas obras essa paisagem tão significativa para os fagundenses e visitantes, que acreditam em sua importância religiosa. Ele também expõe sua real preocupação de, através das suas pinturas, chamar atenção sobre a relevância da preservação ambiental de sua terra.
Em uma de suas pinturas mais antigas, que já foi vendida e por isso não há registros da tela, intitulada "O dia a dia do homem no campo", são evidenciados os desafios do trabalhador que vive as dificuldades de ganhar seu sustento através da lavoura, uma realidade familiar para muitos nordestinos que sobrevivem diretamente da agricultura.
Colocando-se neste lugar de luta, André também se identifica como um homem trabalhador, que segue batalhando por melhores condições de vida. Ele fala do confronto de tentar viver profissionalmente da arte e da constante desvalorização do artista local, que sofre com a falta de apoio por parte das entidades responsáveis pelo setor cultural. Em sua história, fica visível essa árdua luta que é difundir cultura e tradição no país em que vivemos.
Questionado pelo Campina Cultural sobre como enxerga o povo e a cidade artisticamente, ele afirma que a simplicidade se destaca no meio do cotidiano e que os moradores de Fagundes podem ser representados como trabalhadores em busca de melhores condições de vida.
Do processo de criar à inspiração
André cita nomes como Edson Raposeiro, Nil Camargos e Vincent Van Gogh como suas referências artísticas. Sendo esse último, o mais apreciado por causa de suas pinturas que ambientaram, em sua maioria, espaços rurais em que o artista holandês viveu. Além disso, André percebe a familiaridade com a parte de sua história que o retrata como um pintor que foi desvalorizado em vida.
"Ser reconhecido depois que morre é estranho. Acho que o valor tem que ser dado em vida", opina ele sobre essa triste e recorrente realidade.
Ele também se emociona ao confessar que tem sido inspiração para pessoas que nem sequer possuem envolvimento com a arte, mas simplesmente apreciam o seu talento e o incentivam a continuar lutando por seu espaço. É o caso de Ângelo Márcio, porteiro da antiga escola que o jovem artista frequentou, alguém que viu de perto a sua evolução e não poupou estímulos para que ele seguisse em frente.
Seu ateliê é na verdade um lugar improvisado em seu pequeno quarto, onde estuda e cria suas obras. O pintor espera futuramente ter um ambiente e formação mais adequados, através dos quais, possa continuar desenvolvendo seu trabalho e fazendo as encomendas que lhe solicitam. Esperando ainda que um dia esse seu amor pela arte e por Fagundes se torne também sua inteira fonte de sustento.
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Texto: Tanmara Gomes
Entrevista e Produção: Tanmara Gomes
Editor de Texto: Eduardo Gomes
Supervisão Editorial: Ada Guedes
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