É a partir de pontos altos e duplos, entre os fios de malha e as rodas de conversação, que o trabalho das crocheteiras do Lajedo do Marinho vai ganhando forma. Localizado na cidade de Boqueirão, o grupo composto por mulheres, em sua maioria professoras, é destaque no artesanato e no turismo local.
Com início no ano de 2014, debaixo das sombras de uma árvore, o projeto vem conquistando novos espaços e prêmios. No ano de 2016, o grupo foi vencedor do Prêmio Waldemar Duarte, uma iniciativa da Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo (ABRAJET). Reconhecidas pelo colorido de suas peças, pela autenticidade do produto e pela coragem feminina, é que estas mulheres fazem a diferença na sua comunidade. Buscando melhores condições de vida e evidenciando o empoderamento feminino na economia local.
O artesanato e a economia local do Marinho
Com o intuito de ficar mais próximo dos turistas e impulsionadas pela vontade de crescer enquanto associação, foi conquistado um espaço para a comercialização das peças próximo aos lajedos. Viabilizando mais vendas e divulgação para o trabalho desenvolvido. Recentemente foram implementadas placas com identificação para chegar até o Marinho. A formalização do grupo foi outra grande conquista relatada por Dona Carmen, uma das integrantes do projeto. Além da participação no programa Tempero de Família, do GNT.
"Gravamos com o GNT, com Rodrigo Hilbert, o que deu uma boa visibilidade pra gente. De vez em quando o programa repete e sempre chega alguém aqui falando que viu a gente e veio ver se era verdade. Vim ver como era. Então foi muito bom."
Participando sempre do Salão de Artesanato da Paraíba, em breve o grupo estará presente novamente no evento, realizado dentro do São João de Campina Grande. Recebendo novas significações, esses reencontros são motivos de comemoração depois de quase dois anos afastadas em decorrência da Pandemia de COVID-19.
Assolados por uma seca, o cariri paraibano sofre com a falta de abastecimento de água. Para além do fomento da economia local, direta ou indiretamente, as crocheteiras conseguiram, por via do projeto, um deionizador de água. Onde a comunidade recebe água potável.
"É muito gratificante ver tudo isso através da nossa associação. Melhorias para nossa comunidade, para o nosso turismo. Outras pessoas da nossa comunidade são beneficiadas, com o turismo aqui. Como tem o mercadinho, aí tem a pessoa que vende o queijo, que vende o doce, a pizzaria. Tudo isso está movimentando o comércio." diz Maria Suelene.
Professoras por formação e levando o crochê como paixão, as escolas do Lajedo ganham oficinas todos os sábados ou entre os intervalos das aulas. Crianças da educação infantil podem participar dos encontros, assim a cultura do crochê vai se perpetuando em novas gerações.
O reconhecimento e os anseios das crocheteiras
Percorrendo estradas paraibanas e de outros estados, em 2015 as participantes do projeto estiveram no Rio Grande do Norte, participando da Primeira Feira de Turismo Rural (RuralTur), ocasião que foi apresentado catálogo autoral. Com capacitação técnica ofertada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), as mulheres puderam aprimorar as suas técnicas e uso correto de cores e utilização das linhas.
Buscando sempre peças inspiradas na cultura ou vegetação nordestina e na valorização da matéria prima local, é que, indiretamente, estas mulheres fazem o aproveitamento do fio de malha. Que outrora iria ser descartado no meio ambiente, colaborando com um produto sustentável. Convidadas para comparecerem em diversos eventos, muitas das vezes o grupo é impossibilitado de comparecer pela necessidade de um transporte.
"Sula tem um sonho de ver a gente com um carro. Um transporte que, assim, a gente pudesse levar nosso produto naquele carro. Com nosso nome, pra quando chegar chamar atenção." conta Dona Carmen.
Para o futuro, a associação fechou contrato com a CVC, que fomentará a ida de mais turistas e, consequentemente o crescimento da economia local. Com a descoberta de um cemitério indígena entre as trilhas do lajedo, a localidade receberá mais um ponto atrativo com a inauguração do um museu arqueológico. A consolidação e sucesso do projeto é mérito dessas mulheres fortes. Andréa Carolina, Carmen Lúcia, Diana Gomes, Ínala Maria, Josefa Oliveira, Maria das Dores, Maria das Neves, Maria Graciete, Maria Helena, Maria Suelene, Mauricéa Maria, Patrícia Maria, Terezinha Maria e Marly Farias.
____________________
Entrevista: Felipe Bezerra
Produção: Felipe Bezerra e Eduardo Gomes
Supervisão Editorial: Ada Guedes
Comments