Quem é paraibano sente uma coisa boa ao ouvir um xote, um forró. O som da sanfona, do triângulo e da zabumba chegam a causar um arrepio, uma sensação gostosa de que algo muito nosso se manifesta em sons e ritmos. É uma questão de identidade. Pois bem, assim é com o pernambucano quando escuta um frevo ou um maracatu.
Os trombones, taróis, tambores e ganzás alcançam não só os ouvidos, mas todos os sentidos e sentimentos de quem nasce em Pernambuco.
Assim acontece com Flavia Ribeiro Alves, uma pernambucana de 48 anos, que há seis, reside em Campina Grande. Vejam só, a moça da terra do maracatu imergiu na musicalidade deste ritmo na região em que o forró é protagonista. Flavia Foguinho - assim conhecida por seus cabelos ruivos - estreita os laços identitários no Nordeste com a produção artesanal de agbês.
Dos alfaias aos agbês
Os novos caminhos da vida de Flavia foram delineados com muito esforço para exercer sua arte. Em sua terra natal, o encontro com o maracatu não ocorreu com maior intensidade por causa da rotina cansativa de trabalho no teleatendimento, aliada à distância física dos grupos musicais que tanto a encantavam. A mistura de ritmos, a proximidade entre os bairros que facilita o acesso aos lugares e o acolhimento de Campina Grande proporcionaram, então, uma alternativa para resolver estes impasses na vida de Foguinho.
Já residindo na Paraíba, Flavia recorreu às redes sociais para encontrar grupos de maracatu. Foi no Baque Virado da Borborema que aprendeu a tocar instrumentos. Começou no alfaia e logo depois foi para o agbê. Ela explica que ao iniciar o aprendizado no grupo, as artistas iniciam pelos instrumentos que têm maior facilidade em seu manuseio. Foi aí que a artesã teve duplo interesse pelo agbê:
“E aí eu comecei. Comprei uma cabaça na feira. Fui gostando, achando feio, mas ao mesmo tempo bonito. Fui me adaptando e pensei: 'oxe, agbê não é só feito pra tocar! É feito pra vender, também'", relatou Foguinho ao resgatar lembranças sobre sua nova fonte de arte e de renda.
A produção de agbês realizada por Flavia é completamente artesanal. Todo o processo inicia com a compra da cabaça nas feiras livres. Ela, então, imerge a matéria-prima na água para retirar sua pele, conduzindo a peça em um processo contínuo de refinamento.
Entre lixas, cortes e cores, o agbê é cuidadosamente tratado pelas mãos de Flavia Foguinho, transformando-o em um item personalizado para seus clientes.
A arte na representatividade
Flavia valoriza o batuque e acredita que o toque dos instrumentos envolve as pessoas através de sua apreciação. Seja na música ou na arte, o trabalho de Flavia Foguinho busca inspirar pessoas:
“Quero sempre dar uma força para quem está tímida ali e pode pensar: 'poxa, se ela faz, se ela corre atrás e consegue, eu também vou conseguir!'", reforça Foguinho.
Retornar para seu Estado natal é sempre uma alegria, ainda mais se for em períodos de carnaval em que ela pode tocar agbê. É nestes encontros que Flavia vê o reconhecimento de seus pares. Nas ladeiras de Olinda, por exemplo, a artesã já teve oportunidade ver sua mãe e irmãs acompanharem os festejos, orgulhosas de seu trabalho.
Neste percurso, Flavia Foguinho entende que a arte vem para agregar positivamente na vida das pessoas. Trata-se da possibilidade de abraçar quem precisa, sendo ser fiel à sua paixão, à sua identidade. Unido tamanho sentimento ao próprio maracatu, Foguinho faz deste ritmo que a encanta e arrepia, a convergência entre sua sonoridade e seu artesanato.
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Texto: Laís Araújo e Eduardo Gomes
Entrevista: Laís Araújo
Produção: Bruna Araújo e Ana Luísa Aragão
Supervisão Editorial: Ada Guedes
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